24 de setembro de 2012

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Entrevista para Canal Extra

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Em folhetim do Jornal Extra de 16 de setembro , foi publicada essa entrevista  em que Reynaldo Gianecchini fala de experiências após superar o câncer: 'Sexo é uma retomada. Estou me sentido um adolescente de novo'

Impossível entrevistar Reynaldo Gianecchini e permanecer imune às reflexões que cada resposta dele propõe. Depois de superar um câncer no sistema linfático, ele volta à TV como o motorista Nando, no remake de "Guerra dos sexos", que estreia na Globo no dia 1de outubro. Renovado, aos 39 anos, ele fala das primeiras experiências pós-internação, aquelas que o fizeram, e o fazem, se sentir um garoto.


Como foi sua primeira relação sexual após ter alta?

A parte amorosa está bem suspensa na minha vida. Sexo é uma retomada. Engraçado, estou me sentido um adolescente de novo. É revisitação do velho. Uma coisa nova, que não é nova, mas parece nova. Tem uma excitação nisso, uma redescoberta.

E procura um novo amor?

Estou deixando bem no sentido de romance. Fiquei muito tempo afastado disso, virei uma chavinha para cuidar de outro departamento. E agora, retomar vai ser legal. A vida vai ter que me trazer essas coisas. Estou esperando elas irem vindo, sem ansiedade.

Tem vontade de ser pai?

Ainda não bateu. Pensei muito na questão de continuidade, no sentido da vida. Isso está na minha cabeça. Um dia vou querer ter. Antes, teria que encontrar a mulher com quem tivesse vontade de ter filhos.

Por que tornou pública a sua doença?

Não tenho o que esconder. Sou ser humano, não super-homem. Tive que buscar forças, e me fez bem falar sobre o câncer. Foi terapêutico. Expor sua fragilidade tira você dessa coisa de herói. Mostra que a vida tem os seus obstáculos, que é legal você encarar de cabeça aberta.

A que tipo de tratamentos alternativos recorreu?

Me ofereceram todo tipo que você pode imaginar no mundo de alternativas. Comia graviola, que todo mundo fala que é anticancerígena. Muitas pessoas, de diferentes crenças, vieram rezar para mim. E aceitei. O pessoal do Centro Espírita de Franca (SP) veio. Eles rezaram, e fiz a operação espiritual porque meu pai estava envolvido com essa crença. Mas uma hora preferi buscar a minha força interior.

Trocou impressões com amigos como Hebe Camargo e Claudia Jimenez, que enfrentaram a doença?

Meu tratamento não me permitia muito contato com as pessoas. Desde o primeiro momento, recebi muitos emails e respondia o máximo que dava. Mas minha rotina era bem agitada no hospital. É difícil ficar mantendo correspondência, mas ficava absurdamente acarinhado com tudo o que me mandavam. Recebi uma visita do Lula e falamos da parte divertida da doença, da careca e outras amenidades.

Como foi o primeiro dia em casa depois que recebeu alta?

Receber alta foi uma alegria muito grande. Teve festa, bolo no hospital. Mas quando fui para casa, vi que estava muito debilitado. Cheguei cheio de energia, pensando que ia fazer mil coisas, mas fui direto para a cama. Vi que tinha que respeitar o corpo. Demorei um mês para começar a fazer algo. Tinha consciência de que seria um dia de cada vez, sem ansiedade, para viver tudo o que se tem para viver, com todos os cuidados.

Como foi provar algo que há muito não comia?

O que eu mais tinha vontade, quando não podia (durante o tratamento), era comer fruta e tomar água. Água tinha um gosto horrível, e nada melhor do que tomar água com gosto de nada. Foi uma delícia, eu me esbaldei! Hoje, minha alimentação mudou radicalmente. Não foi algo racional, mas evito comida industrializada. Tirei açúcar, lactose, glúten. A gente não pode ficar neurótico, nem antissocial. Se tenho vontade, como pizza, sorvete... Mas isso não faz parte do meu dia a dia.

Tomou um porre quando acabou a dieta médica?

O vinho nunca foi proibido. Dizem que é saudável tomar uma tacinha por dia. Até na época que fazia quimioterapia, o médico deixava. Mas não tive vontade. Não tenho nada contra. De vez em quando, você tem mais é que tomar um porre na vida. Desde que saiba de si. Posso beber pra caramba, que não caio, nem dou vexame. Às vezes, quando se é muito certinho, é legal dar uma sujada (risos).

Que lugares quis visitar?

Além de estar com a natureza, quis encontrar gente querida, que fez parte da minha vida e há muito tempo eu não via. Fiz uma loucura no mapa: fui à Rússia, aos Estados Unidos, a Israel, à Itália e à Espanha.

Seu primeiro personagem na volta à TV tinha que ser leve?

Encararia um vilão. Sei separar as coisas, mas nada é por acaso. Nando veio numa hora muito boa. Ele se mete num monte de confusão, dá tudo errado na vida dele. Com Juliana (Mariana Ximenes), é romântico e sonhador, mas rola uma atração com Roberta (Gloria Pires). Essa leveza do personagem, da novela, é menos desgastante do que fazer um vilão. A gente grava cada palhaçada que você não acredita que está fazendo aquilo! Parece coisa de criança, e agora estou nesse clima. Só uso camisa do Mickey, Pateta, no espírito anos 80, que estão voltando na minha cabeça. E a novela se passou nessa época...

Lembra da interpretação do Nando, feita por Mário Gomes?

Eu assisti, mas jamais tentaria imitar o Mário. Ele era saudável, bonitão, esportista. Eu era adolescente e achava bem legal. Mas procuro não ver, para fazer o meu Nando.

Como foi o primeiro dia de gravação de "Guerra dos sexos"?

Inaugurei o set. Fui para uma ilha, já tinha um clima de superprodução. Geralmente, quando se começa, é devagarzinho, e Jorge Fernando (diretor) só deu as coordenadas e gritou "Gravando!". Voltar foi muito gostoso. Estou com gás, e foi bom terminar a primeira cena. Todo mundo foi carinhoso comigo e, até hoje, nas ruas, as pessoas são receptivas. Minha equipe na novela, mais ainda.

Teve frisson na primeira cena com Gloria Pires?

A primeira cena já era de beijo, e tenho tamanho respeito por ela que tive que quebrar o gelo. Se não, fico pagando de admirador demais. Mas isso foi no início. É fácil se entrosar com ela. Nos bastidores, é uma querida. E, em cena, devolve a bola redondinha.

Como é voltar a fazer par com Mariana Ximenes?

Em "Passione"(2010), a gente se entrosou bem, gostava de estudar junto. Agora, ela é a princesinha e eu, o romântico. Em outras "encarnações" a gente se estapeou, foi horrível um com o outro. É uma delícia exercitar isso com a mesma parceira. Mari virou uma companheira da vida.

Como surgiu essa parceria com o autor Silvo de Abreu?

Ele foi o cara que apostou em me dar papéis diferentes, me fez entrar no universo da comédia com o Pascoal, de "Belíssima" (2005), e chamou para fazer o vilão Fred, de "Passione". É um amigo, um conselheiro. Quando me chamou para "Guerra dos sexos", topei fazer sem saber o que era.

E o galã, hoje, tem medo ou vontade de envelhecer?

Não importa quanto tempo a gente vai viver. E sim como a gente vai viver. Quero que meu dia a dia seja incrível! O resto pra mim é tão irrisório... A gente não sabe de nada. E isso não tem importância.

O que mudou em você?

Diferente mesmo é meu olhar sobre a vida. Vivo com mais lentidão. Com a correria, a gente passa e não vê. Hoje, sinto e ouço mais, presto mais atenção, olho mais as pessoas.

Você está tão calmo, que parece um monge budista...

Engano seu. Ninguém é uma coisa só. Posso ser terrível também. Busco o equilíbrio, tento ser melhor para as pessoas, no trabalho e mais dedicado à família. Isso vem com a idade. O tempo te deixa mais tranquilo, menos intolerante. Mas tenho um vulcão aqui dentro, pronto para entrar em erupção a qualquer momento.

O que diz para quem sofre um drama como o que enfrentou?

O importante é encarar tudo de frente. Tudo tem uma razão. Nada é por acaso. Todo mundo tem o seu desafio. Se o seu desafio é esse que apareceu, não cabe muito questionar. É o que é. Você não tem controle. Se você encarar um dia de cada vez sem fazer disso um drama, pode ter certeza de que não vai ser difícil. Nada é tão cabeludo. No mínimo, você vai ver um sentido naquilo. Nos tornamos seres humanos melhores quando vencemos desafios.

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